Eric Clapton

29/09/2024
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Vibra São Paulo e Allianz Parque
Por Otávio Juliano – Instagram @showsbyotavio

Fotos por Rogério Talarico – Instagram @rogeriotalarico

Foram 13 anos de espera pelo retorno de Eric Clapton ao Brasil, mas finalmente o “Deus” da guitarra voltou ao país para “abençoar” o público com muito talento e boa música.

 

Em duas apresentações na capital paulista, Clapton celebrou 60 anos de carreira com seus ávidos fãs, que tanto esperaram por esse show em território brasileiro – essa é quarta passagem do guitarrista por aqui (as anteriores ocorreram nos anos de 1990, 2001 e 2011).

 

Para alguns, como este que vos escreve, ver (e ouvir) o músico ao vivo foi um “acerto de contas” entre ídolo e fã, afinal tratou-se de uma experiência inédita, depois de décadas ouvindo e vendo o artista apenas em discos e vídeos. Essa “dívida” precisava ser quitada.

 

A equipe da Kiss FM pôde acompanhar a dobradinha de shows do guitarrista, um verdadeiro privilégio em se tratando de um dos maiores nomes da música, considerado mundialmente um mestre na arte de tocar o instrumento de seis cordas.

 

Vibra São Paulo

Anunciado como show extra, devido ao sucesso de vendas da apresentação inicialmente marcada para o Allianz Parque, ver Clapton em uma casa menor e fechada era mesmo uma oportunidade única e exclusiva.

 

A experiência para quem topou assistir à apresentação nesse formato mais intimista certamente valeu a pena. Clássicos como “Sunshine of Your Love (Cream)”, que abriu a noite, e “Badge”, também de sua antiga banda Cream, deram o tom da parte inicial do repertório “plugado”.

 

Isso porque Clapton trouxe um set acústico durante o show, revivendo momentos do clássico disco da série “MTV Unplugged”, lançado em 1992. O álbum ao vivo mais vendido da história, vencedor de prêmios Grammy Awards, trouxe a canção “Tears in Heaven”, composta em decorrência do acidente sofrido pelo filho do músico, falecido em Nova York, após cair do 53º andar de um prédio.

 

É claro que foi um dos muitos momentos de emoção e para a execução desse sucesso Eric contou com o reforço do brasileiro Daniel Santiago no violão adicional. “Running on Faith” e “Change the World” (Wynonna Judd) foram outras tocadas em formato desplugado, deixando o clima intimista ainda mais evidente.

 

No retorno à guitarra elétrica, Eric empunhou sua Fender Stratocaster signature novamente, para já retomar com a agitada e Rock n’ Roll “Got to Get Better in a Little While”. A essa altura, quem queria dançar na pista aproveitou para se movimentar, e Eric e banda embalaram muitos dos casais presentes.

 

O guitarrista não é de conversar com o público e limita-se a alguns “obrigado” falados ao microfone, afinal o que prevalece é sua música, em um verdadeiro desfile de classe e elegância ao tocar.

 

“Cocaine” (J.J. Cale) fechou o set regular, ficando para o bis a canção “Before You Accuse Me” (Bo Diddley), quando Clapton retornou com uma guitarra que estampava a bandeira da Palestina, deixando claro seu posicionamento em relação a esse secular conflito com Israel.

 

Allianz Parque

Se no sábado o clima era intimista para um público menor (cerca de cinco mil pessoas), no domingo Eric Clapton se apresentou no formato “grandes estádios”, como era de se esperar de um artista do seu porte musical tocando no Brasil.

 

Ainda que o repertório tenha sido exatamente o mesmo, sem qualquer alteração sequer na ordem das faixas, a experiência de shows em arenas abertas e maiores acabou por proporcionar aquele frenesi habitual dos grandes públicos.

 

Tocando para uma plateia dez vezes maior do que no sábado, Eric subiu ao palco da mesma forma que no dia anterior. Ainda que estivesse em um estádio, o guitarrista não faz questão de qualquer glamour ou pirotecnia. A especialidade de Clapton é tocar e isso ele faz de forma magistral, sem necessidade de qualquer aparato visual adicional.

 

Com exceção de alguns abajures espalhados pelo palco, Eric se apresenta de forma simples e bastante direta. Até seu vestuário parece ser escolhido como se o músico estivesse indo ao supermercado ou a uma lanchonete com a família – jaqueta, calça jeans larga e boné.

 

O que vale mesmo é a combinação de seu dedilhar na guitarra e o som que tal ato proporciona aos ouvidos e olhos dos fãs. A banda que o acompanha é extremamente afiada, valendo destacar a participação individual de todos os músicos – Tim e Chris dão aula de órgão e teclado, como se viu já no início em “Key to the Highway”. Seu parceiro de longa data, Nathan East, toca com igual elegância o baixo e Eric ainda conta com o apoio do amigo Doyle Bramhall II, guitarrista canhoto que cresceu ao lado de Stevie Ray Vaughan e chegou a tocar com o irmão dele, Jimmy Vaughan. Ele ficou inclusive responsável por alguns solos durante o show.

 

Completam a formação da banda o baterista Sonny Emory e as cantoras Katie Kissoon e Sharon White, que foram uma atração à parte com os vocais de apoio, especialmente no clássico “Cocaine” e “Before You Accuse Me” (Bo Diddley) que, assim como ocorreu no dia anterior, fechou a noite de domingo.

 

É possível observar Clapton tocando com os olhos fechados e com a boca mexendo para acompanhar as notas por ele executadas na guitarra, mostrando o quanto de emoção e concentração é colocado a cada canção executada. Não se trata somente de técnica e qualidade, mas de sentimento.

 

Ainda que Clapton tenha escorregado em alguns de seus posicionamentos mais recentes em relação à pandemia da Covid-19, demonstrando seu negacionismo e sendo contrário a vacinas e isolamento, o guitarrista merece todo o respeito por sua contribuição inigualável à música.

 

Poder presenciar Eric Clapton ao vivo no palco, com sua elegância ao tocar, é um verdadeiro deleite para os olhos (e ouvidos) dos fãs de Rock e Blues.

 

Abertura – Gary Clark Jr.

O texano guitarrista foi o escolhido para a abertura dos shows de Clapton no Brasil, sendo muito bem recebido pelo público paulistano, em ambas as apresentações. Para a noite do Vibra São Paulo, Gary inclusive tocou ao lado de Eric na música “Before You Accuse Me” (Bo Diddley).

 

Aos 40 anos, Gary tem um estilo próprio de tocar e impressiona por seu talento ao executar uma mistura de Blues e Rock sob medida. O guitarrista mesclou em seu repertório canções do EP “The Bright Lights” (2011) e as mais novas composições do disco “JPEG Raw” (2024), como a ótima “Habits”. Ainda coube um cover de Stevie Wonder, para “What About the Children”.

 

Foram cerca de sessenta minutos, dos quais Gary e seu septeto agradaram os fãs do Clapton que estiveram presentes nos shows do final de semana, causando uma agradável impressão e mostrando-se uma excelente escolha para “esquentar” o público para a atração principal que viria em seguida.

 

Agradecimentos à Midiorama e Move Concerts pela atenção e credenciamento.

 

 

Banda Eric Clapton:

Eric Clapton (vocal, guitarra e violão)

Chris Stainton (teclado)

Tim Carmon (órgão)

Doyle Bramhall II (guitarra)

Nathan East (baixo)

Sonny Emory (bateria)

Katie Kissoon (vocais de apoio)

Sharon White (vocais de apoio)

 

Set list dos dois shows:

Sunshine of Your Love (Cream)

Key to the Highway (Charles Segar)

I’m Your Hoochie Coochie Man (Willie Dixon)

Badge (Cream)

 

Acústico

Kind Hearted Woman (Robert Johnson)

Running on Faith

Change the World (Wynonna Judd)

Nobody Knows You When You’re Down and Out (Jimmy Cox)

Lonely Stranger

Believe in Life

Tears in Heaven

 

Got to Get Better in a Little While

Old Love

Cross Road Blues (Robert Johnson)

Little Queen of Spades (Robert Johnson)

Cocaine (J.J. Cale)

 

Bis

 

Before You Accuse Me (Bo Diddley)

Fonte: Redação Kiss FM

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