Se sábado era feriado nacional para os brasileiros, para os americanos do Living Colour foi mais um dia de trabalho. E daqueles muito bem-feitos. Com quatro décadas de existência, o Living Colour é conhecido pela fusão de diversos estilos musicais, como Funk, Jazz, Hip Hop, Heavy Metal e, é claro, Rock.
Essa mistura rendeu fama à banda no final da década de oitenta, com o lançamento do álbum “Vivid” (1988), seu debut. Desse disco saíram sucessos como as conhecidas, festejadas e clássicas “Glamour Boys” e “Cult of Personality”, além de “Funny Vibe”, que representa bem a citada fusão de estilos que define o Living Colour e traz um instrumental ainda mais interessante quando ouvido ao vivo.
Foi exatamente assim no último sábado: uma performance de puro talento e indiscutível qualidade musical, para deixar boquiaberto qualquer fã de ouvidos e olhos atentos.
Vernon, Corey, Will e Doug “dão aula” quando o assunto é show em cima de um palco. Não há melhor forma de definir o que se passou na noite do dia 12 de outubro em São Paulo, a não ser utilizar essa expressão “lugar comum”: foi mesmo “uma aula”.
Com entrosamento e carisma de sobra, o Living Colour celebrou sua carreira na capital paulista, em uma hora e quarenta minutos de apresentação, com um repertório que abrangeu os quatro primeiros álbuns de estúdio.
Em sua décima primeira passagem pelo país, incluindo festivais como Rock in Rio (2022) e Hollywood Rock (1992), o Living Colour provou mais uma vez porque é referência para muitas outras bandas.
Quando se trata de alcance vocal, Corey Glover nem parece ter quase 60 anos, a serem completados agora no início de novembro. Basta vê-lo ao vivo cantando, por exemplo, “Open Letter (to a Landlord)”, uma das canções da noite que mais exigiu de sua voz e que foi imediatamente seguida por um sensacional (e providencial) solo de bateria de Will, afinal Glover precisava de alguns minutos de descanso após uma performance vocal como essa.
Já no início, com “Leave It Alone”, a canção mais famosa do disco “Stain” (1993), o som do Tokio Marine Hall se mostrava muito bem ajustado e em perfeita equalização para músicos com tamanha habilidade e técnica. Foi bonito de presenciar ao vivo a combinação na medida certa de guitarra, baixo e bateria, como durante “Sacred Ground” e a “blueseira” e calma “Flying”, ambas do álbum “Collideøscope” (2003).
O saldo da noite foi muito positivo, ainda que alguns sucessos como “Middle Man” e “What’s Yor Favorite Color (Theme Song)” tenham ficado de fora. “Solace of You” estava no set list oficial impresso e colocado no palco, mas acabou sendo cortada.
Antes de “Type”, a última canção executada pelo Living Colour, o guitarrista Vernon Reid fez questão de saudar o Black Pantera, banda convidada para fazer a abertura. Quando o relógio marcava quase meia-noite, o Living Colour se despediu do público, sob fortes aplausos e com a sensação de “missão cumprida”.
Abertura – Black Pantera
Levantando a importantíssima bandeira do antirracismo, a trio mineiro agradou a plateia que esperava pelo Living Colour, trazendo suas canções com letras fortes que abordam temas como discriminação, política e a difícil realidade do preconceito no Brasil.
Faixas como “Perpétuo”, que dá o nome ao mais recente disco da banda, e “Candeia”, soam até mais pesadas quando ouvidas ao vivo, valendo destacar a forte presença de palco dos irmãos Charles Gama (guitarra, vocal) e Chaene da Gama (baixo, vocal), que se juntam a Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria).
Em “Fogo nos Racistas”, o trio pediu a participação do público, que abaixou e levantou antes de cantar o refrão, enquanto “Tradução” foi dedicada à mãe dos irmãos Charles e Chaene. Em uma hora de um excelente e animado show, ainda houve tempo para a formação de uma “roda de mosh” somente de mulheres e uma pequena “Wall of Death”, a pedido da própria banda.
Agradecimentos à Top Link Music (Clovis Roman e Isabele Miranda) pela atenção e credenciamento da equipe da rádio.
Banda:
Vernon Reid – guitarra
Corey Glover – vocal
Will Calhoun – bateria
Doug Wimbish – baixo
Set list:
Leave It Alone
Desperate People
Ignorance Is Bliss
Bi
Ausländer
Never Satisfied
Funny Vibe
Sacred Ground
Open Letter (to a Landlord)
Solo Bateria
Flying
White Lines (Don’t Don’t Do It)/Apache/The Message
Glamour Boys
Love Rears Its Ugly Head
Time’s Up
Cult of Personality
Type