Joan Jett, um os maiores ícones femininos do Rock e ex-guitarrista das Runaways, contou à Big Issue como era ser uma banda só de mulheres, principalmente no começo da banda nos anos 70, em um universo predominante ocupado por homens. As cinco garotas em busca do sonho de fazer o que mais amavam, enfrentaram muita resistência do público no começo, conforme relatou a guitarrista e vocalista.
“Muito rapidamente, quando as pessoas perceberam que estávamos falando sério, os xingamentos começaram. Não apenas nomes pequenos, mas nomes realmente ofensivos: vadia, vagabunda, lésbica. E isso é para te assustar até a morte. Isso me assustou até a morte.
Mas o que isso também fez foi me endurecer. Eu simplesmente fiquei indignada com o princípio. Como você ousa me dizer o que eu posso ou não fazer?”
Quando o hit “Cherry Bomb” explodiu, nos primeiros shows, elas tiveram que enfrentar um público hostil que as insultavam e até mesmo tentavam acertá-las atirando objetos no palco. Depois dos shows, Joan Jett acabava chorando no camarim.
“Havia algo sobre isso que era um esporte para espectadores. Eu estava começando a perceber que talvez isso estivesse voltando aos dias em que as pessoas costumavam ser mortas na praça da cidade, enforcadas ou apedrejadas. E comecei a sentir que era isso, em um nível diferente. Era uma maneira de certas pessoas na sociedade expressarem seu descontentamento com o que estávamos fazendo.”
Segundo Joan, os jornalistas também não eram nada simpáticos, e costumavam escrever coisas terríveis apenas para “fazer seus amigos rirem”. Nas entrevistas, as perguntas frequentemente eram sobre sexo, algo que ela evitava responder.
“Eu percebi naquele momento: ‘Joan, se você responder a essa pergunta, eles nunca mais vão te fazer outra pergunta sobre música. Acabou. Então você nunca pode falar sobre sexo’. Sexo é inerente ao rock’n’roll. Mas eles não achavam que sabíamos de nada. Então foi muito interessante, lutar com as pessoas durante aquele tempo.”
Se pudesse voltar no tempo e dar um conselho para o seu eu de 16 anos, o que será Joan Jett diria? Ela respondeu:
“O que eu diria a mim mesma quando jovem é que as pessoas se sentem ameaçadas por mulheres fortes. E esse tem sido o caso, não apenas desde que a América existe, mas por milhares de anos. Essa é apenas a realidade. Então as pessoas usam essas palavras para machucar você de propósito, para tentar fazer você parar.
Então eu diria ao meu eu jovem, leve tudo com um grão de sal. É para fazer exatamente o que está fazendo com você: ferir seus sentimentos. Não é para ajudá-lo em nenhuma capacidade, para guiá-lo no que eles acham que é uma direção adequada. Eles estão apenas tentando fazer você parar.”
Quando as Runaways se separaram em 1977, Joan Jett seguiu fazendo o que ela mais gostava, Rock and Roll. Ela continuou com Joan Jett & The Blackhearts, que lançou os sucessos “I Love Rock’n’Roll”, “Bad Reputation” e “I Hate Myself for Loving You”.
Mas tinha uma razão muito forte para que Joan Jett continuasse:
“Eu queria facilitar para a próxima garota. Porque eu sabia que já tinha jogado minha sorte.”
Ela acrescentou:
“Momentos importantes podem ser ótimos, e também podem ser devastadores e tristes, mas todos eles constroem quem você é como pessoa. Você pode se sentir melhor sobre perder porque sabe que está construindo seu caráter. Pessoas que não perdem nada, elas não sabem nem o significado de vencer.”