Texto por Otávio Juliano – Instagram @showsbyotavio

Quando veio ao país em 2018, em meio à eleição mais polarizada de todos os tempos no Brasil, Roger Waters surpreendeu a muitos fãs, que se irritaram com seu posicionamento político e o show rendeu vaias e até mesmo a saída antecipada de uma parcela do público do estádio.

Nas redes sociais as passagens de Waters pelo país sempre rendem polêmica e muitos discordam de seu discurso ativista, por mais estranho que isso possa parecer, uma vez que o músico é um dos fundadores da banda britânica Pink Floyd, cujas composições são carregadas de política e causas sociais.

No contexto em que Roger sempre esteve inserido e com base em suas declarações e posicionamentos, ainda que alguns deles possam geram certas indignações, era para sua apresentação não causar estranheza a ninguém, especialmente a seus fãs.

Ao contrário de 2018, quando seu show ainda gerou esse tipo de indignação, no último domingo o público que compareceu em bom número, mas não lotou o Allianz Parque, pareceu saber exatamente no “território que estava pisando”.

Roger Waters tocou em assuntos polêmicos, questões humanitárias importantes, mostrou imagens de cidades destruídas por guerras e bombardeios, além de pessoas desabrigadas, como ocorreu durante a execução de “Déjà Vu”, quando ainda destacou o fato de que todos os seres humanos deveriam ter seus direitos humanos resguardados. A mensagem de “Pare o Genocídio” tomou conta dos telões.

Em outra ocasião, ao tocar “The Bravery of Being Out of Range”, Roger fez questão de chamar a atenção para ex-presidentes americanos e o atual Joe Biden, os quais classificou como “criminosos de guerra”. Já em “The Powers That Be” chamou a atenção para casos de pessoas mortas sem que houvesse qualquer cometimento de crime, mas apenas por serem negras ou mulheres, ou ainda por terem criticados políticos.

Além dessas canções citadas, da carreira solo de Waters, a apresentação contou com muitas composições do Pink Floyd, como não podia deixar de ser. A animada “Run Like Hell”, “Money” e “Us and Them”, ambas do festejado disco “The Dark Side of The Moon” (1973) foram alguns dos destaques da noite. “Eclipse”, também do referido disco, não pode deixar de ser lembrada, afinal o estádio foi tomado por luzes com as cores do arco-íris, proporcionando um momento lindo.

Ainda que seja carregado de ativismo político, a apresentação de Roger Waters é igualmente grandiosa em termos visuais, com quatro gigantes telões que transformam o show em uma verdadeira experiência musical.

Em quase três horas, com um intervalo de vinte minutos entre o primeiro ato, encerrado com “Sheep” e uma ovelha inflável gigante flutuando, e o segundo ato, iniciado com “In the Flesh”, quando o famoso porco já se mostrava “sobrevoando” a plateia.

Uma parte da noite é dedicada a memórias do passado, com menções diretas a Syd Barrett, cofundador do Pink Floyd, ainda que Roger tenha trabalhado recentemente em lançamentos versão “redux” dos sucessos de outrora. “Comfortably Numb”, a faixa que abriu a apresentação é uma desses casos, executada sem o bonito solo de guitarra, marca registrada de David Gilmour, ex-guitarrista da banda e desavença declarada de Waters.

Foram ao todo sete shows no Brasil, em seis cidades (São Paulo teve duas datas agendadas), da “This Is Not A Drill Tour”, que promete ser a despedida do músico. Se for mesmo a derradeira turnê, fica a lembrança de mais essa experiência emocionante e social promovida por Waters na capital paulista.

Agradecimentos à FleishmanHillard e 30E pela atenção e credenciamento. Fotos por Marcos Hermes – gentilmente cedidas pela assessoria do evento.  

Setlist:

Set 1:

Comfortably Numb (Pink Floyd)

The Happiest Days of Our Lives (Pink Floyd)

Another Brick in the Wall, Part 2 (Pink Floyd)

Another Brick in the Wall, Part 3 (Pink Floyd)

The Powers That Be

The Bravery of Being Out of Range

The Bar

Have a Cigar (Pink Floyd)

Wish You Were Here (Pink Floyd)

Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-IX) (Pink Floyd)

Sheep (Pink Floyd)

Set 2:

In the Flesh (Pink Floyd)

Run Like Hell (Pink Floyd)

Déjà Vu (Reprise)

Is This the Life We Really Want?

Money (Pink Floyd)

Us and Them (Pink Floyd)

Any Colour You Like (Pink Floyd)

Brain Damage (Pink Floyd)

Eclipse (Pink Floyd)

Two Suns in the Sunset (Pink Floyd)

The Bar (Reprise)

Outside the Wall (Pink Floyd)