Texto por Otávio Juliano – Instagram @showsbyotavio

Fotos por Leandro Anhelli – Instagram @anhelli1980 e Rogério Talarico – Instagram @rogeriotalarico

 

 

O FESTIVAL – Origem, experiência e estrutura

Tradicionalmente programado para ocorrer no verão europeu, no mês de agosto, na cidade de Dinkelsbühl, o festival alemão Summer Breeze Open Air ganhou sua primeira edição no Brasil, em São Paulo.

Com 25 anos de história na Alemanha, o público brasileiro pôde vivenciar essa inédita experiência no final de semana dos dias 29 e 30 de abril. Organizado pela Free Pass Entretenimento e a revista Roadie Crew, o festival ganhou o nome de Summer Breeze Brasil e contou mais de 40 atrações, entre bandas e palestras.

Com estrutura de alto padrão, o evento contou com quatro palcos: dois principais (Ice e Hot Stages), um menor que era acessado por meio de uma passarela (Sun Stage) e mais um localizado no auditório Simon Bolivar (Waves Stage), exclusivo para os fãs que adquirissem o ingresso “Summer Lounge”.

Em um espaço tão grande, era preciso disposição para transitar e vivenciar todas as atrações, pois, além das bandas em si, havia feiras com lojas de discos, estúdio de tatuagem, camisetas, uma mini Horror Expo (feira de terror que ocorre em São Paulo), áreas de alimentação, bares, sessões de autógrafos e mais. Enfim, muita coisa para curtir e aproveitar.

Mesmo com tudo isso, era possível transitar bem por todo o Memorial da América Latina, mostrando-se uma ótima escolha de local para o festival. A montagem de dois palcos principais lado a lado permitia um intervalo mínimo entre um show e outro (cerca de 5 minutos) e isso possibilitou acompanhar diversas apresentações seguidas, bastando se movimentar lateralmente ou apenas olhar ao lado. Destaque ainda para os três telões que transmitiam as imagens ao vivo das bandas, independente do palco em que estava ocorrendo o show.

Além de energia para conhecer tudo o que o festival ofereceu, foi necessária a utilização de protetores solares e bonés, pois o Sol apareceu e não houve chuva, contrariando algumas previsões, para a sorte de todos os presentes.

Com tantas apresentações acontecendo ao longo dos dois dias, a equipe de reportagem da rádio, apesar de contar com diversos profissionais credenciados, não conseguiu assistir a todos shows na íntegra, sendo necessário fazer escolhas em determinados momentos e também pausas para hidratação, alimentação etc.

 

 

SHOWS – Primeiro dia

A programação do sábado começou intensa com shows da banda alemã Voodoo Kiss, a primeira a tocar no Summer Breeze e que tem na bateria um dos criadores do festival (Achim Ostertag), de João Gordo, com seu projeto Brutal Brega, que executa canções da música “brega” em versão punk, e ainda dos ingleses do Benediction.

Paralelamente, às 11hs, os presentes que haviam adquirido o ingresso com acesso ao Summer Lounge puderam conferir a première do segundo episódio do documentário sobre o falecido músico Andre Matos, que também foi lembrado e homenageado durante a apresentação das bandas Viper e Shaman.

As bandas dividiram o tempo de uma hora de show, com o Viper sendo o primeiro a subir no palco. Infelizmente o som não estava adequadamente ajustado no início e não foi possível ouvir a voz de Leandro Caçoilo. Já com o som regulado, durante “Living For The Night”, foi a voz do público que foi ouvida durante a introdução, em uma linda homenagem ao saudoso Andre Matos.

O Shaman entrou em seguida, contando com Rafael Bittencourt na guitarra e Felipe Andreoli no baixo, para executar canções do Angra. Luis Mariutti assumiu o baixo para tocar “Turn Away” e fazer a alegria dos fãs. Com todos no palco e ainda Felipe Machado (Viper), “Carry On”, outra composição do Angra, encerrou o show.

Um pouco mais cedo, quem se apresentou no Summer Breeze com uma interpretação impecável foi Marc Martel. O cantor, vencedor da competição para a escolha do vocalista do projeto Queen Extravaganza, produzido pelo próprio baterista Roger Taylor, “passeou” por sucessos e clássicos do Queen com perfeição. Não tinha como dar errado.

Muito simpático e comunicativo com a plateia, Marc abriu seu show com as enérgicas “Tie Your Mother Down” e “Hammer to Fall”. Ao piano, Martel encerrou sua apresentação com “We Are the Champions”, mas não sem antes executar “Somebody to Love”, canção escolhida por ele em sua audição para o Queen Extravaganza em 2011, que conta com mais de 20 milhões de visualizações no Youtube.

Outra atração a agradar positivamente foi o Skid Row. A clássica banda formada nos anos 80 se reinventou com Erik Grönwall no vocal. O sueco deu uma energia extra aos já veteranos Rachel Bolan, Scotti Hill e Dave “The Snake” Sabo, membros originais.

Isso ficou claro com a performance ao vivo da banda, que priorizou os clássicos no repertório, como “18 and Life” e “Youth Gone Wild”, mas sem deixar de lado a recente “Time Bomb” e a faixa-título do ótimo álbum “The Gang´s All Here” (2022).

Erik, ex-vocalista da banda H.E.A.T., também presente no Summer Breeze Brasil (tocou no domingo), deixou ótima impressão, principalmente aos que não o conheciam. Seu poderio vocal faz com que ele consiga cantar desde uma balada como “In a Darkened Room” até “Riot Act”, uma das músicas mais pesadas da carreira do Skid Row.

Agitado no palco, Erik parece “estar em casa” com seus novos colegas de banda e fica claro que todos estão felizes e curtindo a nova (e rejuvenescida) fase da banda. Um show excelente, para deixar os fãs satisfeitos, mesmo com a sentida ausência da balada “I Remember You” no setlist.

Metade do primeiro dia do festival já havia se passado, mas ainda muita coisa boa estava por vir. Aliás, aqui vale um comentário importante: um dos pontos altos do Summer Breeze Brasil foi justamente unir estilos diferentes dentro do Rock n’ Roll e do Heavy Metal, com uma enorme variedade de bandas, as consideradas “clássicas” e as da nova geração.

Após sessenta minutos de Hard Rock, as atrações que vieram em seguida eram do segmento da música pesada. Sepultura tomou conta do Ice Stage, enquanto o Lamb of God se apresentou na sequência no Hot Stage.

Como mencionado acima, foi impossível estar todos os shows, mas na galeria de fotos você encontra fotos de quase todas as bandas e artistas que fizeram história nessa primeira edição do Summer Breeze Brasil.

Já era noite quando dois nomes importantes do Rock e Heavy Metal se apresentaram concomitantemente: Stones Temple Pilots e Accept. A reportagem da rádio acompanhou uma parte de cada show.

Em um dos palcos principais, o Stone Temple Pilots recebeu a atenção de uma enorme plateia, explorando ao máximo as luzes coloridas no palco, aproveitando-se do anoitecer. Bem-sucedida nos anos 90, teve com o disco “Core” (1992) sua melhor vendagem da carreira, tornando-o um best seller.

Com Jeff Gutt no posto de vocalista desde 2017, a banda liderada pelos irmãos Dean e Robert DeLeo, já gravou dois álbuns de estúdio desde então e lançou singles em 2021, mas no sábado preferiu executar canções do citado “Core” e de seu segundo disco (“Purple”, de 1994), como “Still Remains”, dedicada por Jeff a Scott Weiland, o falecido vocalista original do Stone Temple Pilots.

“Plush”, um dos principais sucessos da carreira do grupo foi um dos pontos altos da noite e, logo em seguida, com o show ainda rolando, era hora de conferir um pouco do palco Sun Stage, onde os alemães do Accept se apresentavam.

Ao atravessar a passarela era possível ver que o público tinha tomado conta do espaço para acompanhar a banda e seus clássicos “Balls to the Wall” e “I’m Rebel”, as duas canções que encerraram o dia no palco Sun Stage.

A plateia presente cantou a plenos pulmões os sucessos do início dos anos 80, mas também vibrou ao som de “Pandemic”, faixa de “Blood of the Nations” (2010), que fez o Accept ressurgir com muita força, com o ótimo Mark Tornillo no vocal.

Embora apenas com um membro original na formação atual, o guitarrista Wolf Hoffman, o Accept é uma referência no Heavy Metal e continua a lançar ótimos trabalhos de estúdio, mantendo-se na ativa e, para a sorte dos fãs, sempre lembrando de uma visita ao Brasil nos últimos anos.

Desde a chegada no Memorial da América Latina, pela manhã, era possível ver a grande quantidade de fãs com camiseta do Blind Guardian. Muitos estavam ali exatamente para ver a principal atração da noite, a veterana banda alemã de Power Metal.

Escolhida para encerrar o festival no palco Hot Stage, o Blind Guardian entregou um show de quase noventa minutos, deixando seu público fiel saciado. Na ativa desde a década de 80, o grupo alemão continua a lançar material inédito com frequência, sendo o mais recente álbum de 2022 (“The God Machine”).

Para o Summer Breeze o foco central do show foram os sucessos da carreira e o vocalista Hansi Kürsch ainda brincou que gostaria de tocar muito mais, ressaltando que os fãs presentes queriam e mereciam isso, mas que a banda tinha uma limitação de tempo.

“Majesty” encerrou o set regular do show e o público gritava por “Valhalla”, clássica canção do Blind Guardian. Hansi e banda retornaram para o bis e o vocalista questionou se a plateia havia guardado energia para o que estava por vir.

É claro que a grande plateia que os acompanhava tinha energia para mais. E não foi só “Valhalla”, a banda ainda executou “Mirror Mirror”, para alegria e vibração geral, colocando um ponto final na noite.

Se o primeiro dia de festival havia acabado para a imensa maioria dos presentes e era hora de descansar para o segundo dia, para os privilegiados do Summer Lounge uma experiência muito especial os esperava no auditório Waves Stage.

A banda finlandesa Apocalyptica, conhecida por executar canções de Heavy Metal com violoncelos, subiu ao palco pouco depois das 22hs. Com os fãs incialmente sentados, o grupo formado por três violoncelistas – Eicca Toppinen e Paavo Lötjönen (fundadores) e Perttu Kivilaakso, o baterista Mikko Sirén e o vocalista Frankie Perez, proporcionou uma experiência sem igual aos presentes no auditório.

Em um ambiente escuro, prevaleceram somente as luzes coloridas espalhas pelo extenso palco, que foi bem explorado pelos músicos durante toda a apresentação, deixando os presentes com muita proximidade da banda.

Incrível. Felizes daqueles que lá estiveram e puderam ouvir clássicos do Metallica ao som de violoncelos – a banda ficou famosa com seu primeiro disco: “Plays Metallica by Four Cellos” (1996). No show de sábado, “Nothing Else Matters” e “Seek & Destroy” levaram o público à loucura, evidenciando como é sim possível fazer muito barulho e tocar Heavy Metal sem guitarra e baixo. O Apocalyptica é a prova disso.

Por fim, o furor foi total com a surpresa da noite. Convidada a palestrar no segundo dia do Summer Breeze Brasil, a vocalista Simone Simons (Epica) fez uma participação especial no show do Apocalyptica, para cantar “Rise Again”, single que ela gravou com a banda, lançado em 2022. Um momento único.

Agora sim era hora de ir para casa e fechar os portões do Memorial da América Latina, afinal um segundo dia inteiro de festival estava por vir. Mas isso você acompanha em outro texto, com a respectiva galeria de fotos das bandas que se apresentaram no domingo.

Agradecimentos à produção do evento e à Agência Taga pela atenção e credenciamento de toda a equipe da rádio.