Texto por Otávio Juliano – Instagram @showsbyotavio
Bandas costumam tocar e ensaiar nas chamadas garagens, locais destinados para abrigar veículos, mas que também eram (e eventualmente ainda são) usados para reuniões de músicos e seus instrumentos, especialmente em início de carreira.
Nessas ocasiões o clima costuma ser de muito improviso, naquela pegada “e aí, o que vamos tocar agora?”. É exatamente isso que se viu no show do Red Hot Chili Peppers em São Paulo, com a banda parecendo tocar em uma garagem, apesar dos milhares de fãs presentes no estádio. E é também isso que acaba por fazer toda a diferença, mostrando a autenticidade de seus integrantes e a importância da música em si.
Desde o retorno de Frusciante à posição de guitarrista da banda, o Red Hot Chili Peppers parece ter reencontrado sua melhor performance e a sinergia dos músicos é evidente, saltando aos olhos (e aos ouvidos!) de quem os assiste (e os ouve!) ao vivo.
Em quase duas horas Anthony Kiedis e cia levaram ao público paulistano um repertório cheio de improvisos, alguns dos chamados “clássicos”, outros “lados B” e canções dos discos mais recentes, mas principalmente um instrumental poderoso, graças às presentes linhas de guitarra de Frusciante e à “cozinha” do inquieto Flea (baixo) e de Chad (bateria), o mais “brasileiro” dos Chili Peppers, pode-se assim dizer (para quem não acompanhou, o baterista tem aproveitado sua vinda ao Brasil para ir a diversas casas noturnas e shows, fazendo até mesmo algumas participações especiais).
É claro que “Give It Away”, “The Zephyr Song” e as baladas “Californication” e “Under the Bridge” eram provavelmente as mais esperadas pela grande maioria do público e nem é preciso dizer que o agito foi geral quando essas canções foram executadas. Os fãs acompanharam com entusiasmo as músicas, com a letra na ponta da língua, como previsto.
Mas o repertório do Red Hot Chili Peppers, escolhido a cada show da turnê, nem sempre traz somente aqueles inegáveis sucessos, abrindo espaço para composições mais atuais e outras nem tão conhecidas, o que acaba por frustrar a expectativa de parte da plateia, que respondeu de forma menos efusiva a músicas como “Eddie”, “Tell Me Baby” ou ao cover de “Terrapin” (Syd Barrett).
Se fosse oferecida aos fãs a possibilidade de escolha do repertório, essas canções seriam facilmente trocadas por “Suck My Kiss”, “Scar Tissue” ou ainda, indo um pouco mais longe, por alguma composição do álbum “Mother’s Milk” (1989), como “Higher Ground” (regravação de Stevie Wonder que fez muito sucesso com o Chili Peppers).
Com dois álbuns lançados no mesmo ano, em 2022, o Red Hot Chili Peppers logicamente não poderia deixar de tocar também músicas desses discos em sua “Global Stadium Tour” e, embora ainda não tão celebradas pelo público, vale o destaque para “Here Ever After”, executada com muitos efeitos psicodélicos nos telões.
Interação com os presentes não é o forte de Anthony Kiedis, que se limitou a um único “boa noite” em português logo no início e só. Flea, o outro cofundador da banda, preocupa-se muito mais em entregar uma performance incrível de baixo e até mesmo diverte-se ao plantar bananeira e pular pelo palco do que falar com seu público. Frusciante e Chad igualmente preferem tocar a falar.
Assim funciona a banda californiana. O Red Hot Chili Peppers toca o que quer, na melhor versão “estamos em nossa garagem fazendo uma jam session”, sem necessariamente se preocupar com o que o público quer ouvir, embora muitas vezes essas vontades convirjam.
A banda agora toca em Curitiba e Porto Alegre, fechando a passagem pelo Brasil, antes de seguir para o Chile e Argentina, para depois retornar para um show em sua cidade natal, Los Angeles.
Agradecimentos à Live Nation Brasil pela atenção e credenciamento. Fotos por MRossi – gentilmente cedidas pela assessoria do evento.
Banda:
Anthony Kiedis – vocal
Flea – baixo
Chad Smith – bateria
John Frusciante – guitarra
Setlist:
Can’t Stop
The Zephyr Song
Snow ((Hey Oh))
Here Ever After
Havana Affair (Ramones)
Eddie
Parallel Universe
Soul to Squeeze
Right on Time
Tippa My Tongue
Tell Me Baby
Terrapin (Syd Barrett)
Don’t Forget Me
Californication
Black Summer
By the Way
Bis:
Under the Bridge
Give it Away