Monsters Of Rock – Allianz Parque, São Paulo – SP

22 de abril de 2023

Texto por Otávio Juliano – Instagram @showsbyotavio

Fotos por Leandro Anhelli – Instagram @anhelli1980

 

Criado em 1980, o festival Monsters Of Rock chegou ao Brasil pela primeira vez em 1994. Nos anos seguintes foram mais cinco edições de muito sucesso, nas quais passaram pelo país nomes do calibre de Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Aerosmith, Megadeth, entre outros.

Em sua sétima edição no Brasil, o Monsters Of Rock retornou à capital paulista neste sábado, levando milhares de fãs ao Allianz Parque lotado. Com ingressos esgotados com antecedência, o festival mais uma vez deixou sua importante marca na história dos shows internacionais em território brasileiro.

Quase três décadas depois de sua estreia no país, o Kiss retornou ao Monsters Of Rock (a banda tocou na primeira edição, em 1994, à época sem máscara), juntando-se a outras seis bandas: Scorpions, Deep Purple, Helloween, Candlemass, Symphony X e Doro. A equipe da Kiss FM foi conferir como foi o festival.

 

Atrações do final da manhã e início da tarde – Doro, Symphony X e Candlemass

Com portões abertos às 10hs, Doro foi a escolhida para “dar início aos trabalhos do dia” e se mostrou uma escolha certeira, pois atraiu bastante público, apesar do horário ainda cedo.

A “rainha do Metal”, como é conhecida mundialmente, entregou um show repleto de energia e simpatia. A alemã esteve sorridente durante toda a apresentação e visivelmente feliz em retornar ao Brasil, trazendo um setlist focado nos sucessos de sua antiga banda, o Warlock.

Com o som muito ajustado, o público pôde acompanhar a execução de grandes clássicos durante 40 minutos, como “All We Are” e a excelente “I Rule The Ruins”, que abriu a apresentação, ambas faixas lançadas no álbum “Triumph and Agony” (1987), do Warlock.

Contando na formação com um músico brasileiro que mora nos Estados Unidos, o guitarrista Bill Hudson, foi impossível não se emocionar ao ver a “Metal Queen” no palco do Monsters Of Rock. Uma ótima maneira de se começar um festival.

Em seguida, após 20 minutos de intervalo, o Symphony X tomou conta do palco do Allianz Parque. “Nós crescemos ouvindo esses caras e para nós é uma honra tocar nesse festival ao lado deles”.

Essa fala do vocalista Russell Allen já deixou claro o quão honrados os músicos do Symphony X estavam em tocar para o público brasileiro nesse festival. Aliás, vale já parabenizar Russel por sua incrível performance vocal, como se viu especialmente na canção “Without You”, um dos pontos altos do show.

Apesar de se mostrar irritado em alguns momentos, aparentemente com o volume do seu microfone, Russell e cia mostraram um instrumental poderoso e afinado, trazendo uma boa dose de peso e melodias marcantes, resultando em uma mistura de Power Metal e Progressivo bastante interessante.

Sem lançar um álbum de estúdio desde 2015, o curto setlist da banda trouxe muitas faixas do disco mais recente, “Underworld”, valendo o destaque para “Kiss of Fire” e “Run with the Devil”, com um belíssimo solo de Michael Romeo.

Era ainda início da tarde, quando o Candlemass entrou em cena. Confirmado de última hora para o Monsters Of Rock, em virtude do cancelamento da apresentação da banda Saxon, os suecos vieram de longe para esse único show no Brasil.

O próprio baixista e fundador do Candlemass, Leif Edling, foi ao microfone afirmar que a viagem tinha sido longa, mas tinha valido a pena cada minuto no avião para estar lá no palco do festival.

Referência no Doom Metal, o grupo sueco mostrou algumas das canções de sua extensa carreira de quase quatro décadas, como “Mirror Mirror”, “Crystal Ball” e “Under The Oak”. Mesmo com disco lançado em 2022 – “Sweet Evil Sun”, a banda optou por executar canções do passado e foi bem recebida e muito aplaudida pelos presentes.

 

Helloween

Um verdadeiro espetáculo! Diversão e Power Metal de qualidade, é assim que se pode definir um show dos alemães do Helloween, especialmente da turnê com os vocalistas Andi Deris e Michael Kiske e com o retorno de Kai Hansen.

Desde que o Helloween resolveu unir forças e juntar todo mundo no mesmo palco, as apresentações da banda têm sido incríveis e no Monsters Of Rock não foi diferente. Aproveitando todos os espaços do palco, inclusive das laterais onde se localizavam os gigantes telões, os músicos andaram de um lado para o outro, festejando os sucessos da carreira com seu público.

A essa altura o estádio já estava cheio e Andi e Kiske, alternando-se nos vocais, comandaram a plateia com maestria. O agito foi geral durante canções como “Future World”, “Power” e “Dr Stein”, para citar apenas algumas. “I Want Out”, fechando o show, foi aquele momento apoteótico, com abóboras infláveis espalhadas pela pista.

“You are ‘p*ca das galáxias’”, gritou ao microfone o guitarrista Kai ao se referir ao público brasileiro, arrancando risadas gerais. Acho que se pode dizer mesmo desses ícones do Power Metal mundial.

Se você ainda não viu uma apresentação do Helloween de 2017 para cá, com a formação completa da banda, faça isso. É diversão garantida.

 

Deep Purple

Patrimônio da música mundial, o Deep Purple é nada menos do que o criador de um dos riffs mais famosos da história do Rock e influência para um sem número de músicos e bandas ao redor do mundo.

Um festival da importância do Monsters Of Rock no Brasil não poderia deixar de ter uma lendária banda como o Deep Purple em seu cast. Por isso, 2023 fica marcado na história do Rock brasileiro como o ano em que a banda fez sua estreia no palco do Monsters.

Assistir à banda ao vivo é presenciar quatro senhores acima dos 70 anos que mudaram (e ainda mudam) a vida de tanta gente ao longo dos anos, desde 1968, ano de fundação do Deep Purple.

Ian Gillan, aos 77 anos, esforça-se ao máximo entregar seu melhor no show, aproveitando os momentos de solos de guitarra, baixo e teclado para descansar sua voz. Paice segue sendo referência para muitos bateristas e forma uma “cozinha” impecável com Roger Glover, com sua característica bandana. Don tem um currículo de fazer inveja a qualquer músico e teve a difícil missão de substituir Jon Lord em 2002, exercendo essa função na banda até os dias de hoje, tendo inclusive homenageado a música brasileira em seu solo de teclado.

A juventude da banda fica por conta do recém-chegado guitarrista Simon McBride que, embora não seja mais nenhum menino (tem 44 anos), adiciona fôlego extra ao Deep Purple e parece estar ambientado, apesar do pouco tempo de banda.

No repertório, muitos sucessos e aquelas composições consideradas clássicos absolutos do Rock. “Highway Star”, “Pictures of Home” e, é claro, “Smoke On the Water”, todas do icônico disco “Machine Head”, fizeram a alegria dos fãs durante uma hora e meia.

 

Scorpions

Já havia escurecido quando o Scorpions também fez sua estreia no Monsters Of Rock brasileiro. Os alemães são lendas vivas do Hard Rock, com dezenove  discos gravados – de “Lonesome Crow”, de 1972, até o muito elogiado e bem recebido “Rock Believer”, de 2022.

Aliás, do mais recente álbum de estúdio, vieram algumas das faixas executadas no Allianz Parque, mostrando-se ótimas opções para o show da banda nos dias atuais, como a faixa-título “Rock Believer”, a acelerada “Gas in the Tank”, escolhida para a abertura, e a linda “Seventh Sun”.

É claro que shows à noite são mais bonitos de se ver e o Scorpions aproveitou a vantagem de ser um dos últimos a se apresentar. O palco “ganhou vida” com muitas luzes coloridas e telões com imagens incríveis durante toda a apresentação.

O céu escuro também permitiu que o público acompanhasse as baladas “Wind Of Change” e “Still Loving You” com milhares de celulares acesos, a pedido da banda. Um momento memorável.

O vocalista Klaus, que permanece todo tempo no centro do palco, interagiu com a plateia e lembrou que a banda iria tocar também as composições dos anos 80, ao anunciar “Bad Boys Running Wild”, do disco “Love At First Sting” (1984).

São tantos anos de carreira e tantos sucessos que fica até difícil para a banda escolher o setlist. Ainda coube “Big City Nights”, “Blackout” e “Rock You Like A Hurricane” fechando o show, além de um solo espetacular de bateria de Mikkey Dee (ex-Motörhead).

 

Kiss

Faltava apenas uma atração: o Kiss! Em sua terceira participação no Monsters Of Rock, os mascarados fecharam de maneira apoteótica o sábado dos cinquenta mil presentes ao festival.

O próprio Paulo Stanley anunciou esse número logo no início. Bastou a abertura de “Detroit Rock City” pontualmente às 21hs para o barulho do público tomar conta do estádio, enquanto Paul, Gene e Tommy desciam de cima do palco.

Só quem já foi e presenciou “in loco” um show do Kiss entende o que é esse início de apresentação. De arrepiar. Com um setlist de mais de 20 músicas, a banda trouxe a São Paulo uma apresentação repleta de canções que todos os fãs querem sempre ouvir.

Da fase sem máscara, nos anos 80, “Lick It Up” e “Heaven’s On Fire” levaram diversão aos presentes, sendo cantadas por milhares de vozes. “War Machine”, a antiga e clássica “Cold Gin”, de 1974, e “Psycho Circus”, faixa do disco responsável pelo retorno da formação original da banda ao estúdio em 1998, também abrilhantaram a noite paulistana.

Luzes, explosões. Mais luzes, mais explosões. É disso que é feito o espetáculo do Kiss. Cada membro da banda tem seu momento particular, com destaque especial para o “passeio” de tirolesa do vocalista Paul Stanley por cima do público na pista, em direção ao centro do estádio, para cantar “Love Gun”.

Para o “gran finale”, a balada “Beth”, com Eric ao piano, “Do You Love Me”, com balões brancos voando pela plateia e uma infinita chuva de papel picado durante o hino do Rock mundial: “Rock and Roll All Nite”. Melhor final para duas horas de show seria quase impossível de se imaginar.

Nunca é só “mais um show do Kiss”, por mais que seja motivo de brincadeira entre os fãs o fato de a banda já ter anunciado aposentadoria em outras oportunidades. Tudo é muito bem ensaiado e não há espaço para improvisos. O fã sabe exatamente o que vai acontecer e conhece cada movimento dos músicos, mas ainda assim é sempre uma experiência inesquecível.

Parece que agora é o momento de se despedir da banda definitivamente e o show de sábado teria sido a derradeira apresentação do Kiss para os fãs paulistanos (a banda ainda toca em Florianópolis e se despede dos brasileiros dia 25 de abril).

Será mesmo a despedida? Saberemos no futuro. Por ora, muito obrigado Kiss e Monsters Of Rock!

Agradecimentos à Mercury Concerts e Catto Comunicação (Denise e Simone) pela atenção e credenciamento da equipe da rádio.

Setlist Kiss (os demais setlists você pode conferir em setlist.fm):

Detroit Rock City

Shout It Out Loud

Deuce

War Machine

Heaven’s on Fire

I Love It Loud

Say Yeah

Cold Gin

Solo Tommy Thayer

Lick It Up

Makin’ Love

Calling Dr. Love

Psycho Circus

Solo Eric

100,000 Years

Solo Gene

God of Thunder

Love Gun

Play Video

Black Diamond

Bis:

Beth

Do You Love Me

Rock and Roll All Nite